quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O Brasil Fantástico – Lendas de um país sobrenatural

O Brasil Fantástico – Lendas de um país sobrenatural
Autores: Clinton Davidson (org), Grazielle de Marco (org), Maria Georgina de Souza (org), André Vianco (apresentação), Christopher Kastenmidt, Andreia Kennen, João Rogaciano, A. Z. Cordononsi, Allan Cutrim, Mickael Menegheti, Maria Helena Bandeira, Marcelo Jacinto Ribeiro, Vivian Cristina Ferreira, Renan Duarte, Antonio Luiz M. C. Costa.
Editora: Draco
Ano: 2013
248 páginas

Sinopse: Por inciativa da gestão 2012/2013 do Clube de Leitores de FicçãoCientífica, a antologia O Brasil Fantástico reúne contos que tem por base a mitologia brasileira, recontada das mais variadas formas e dentro dos mais variados enredos passando pela aventura, pela ficção científica, pelo terror e até pelo humor.

A Copa dos Mitos – Christopher Kastenmidt
Um menino apaixonado pela mitologia brasileira e discriminado por causa disso é convidado por um estranho, conhecido apenas por Ruivo, a ver uma copa do mundo de um esporte diferente. Lá chegando vê uma batalha entre mitos de várias regiões do mundo, e cada região tem uma torcida organizada. Ele é o único torcedor do Brasil.
O conto faz referências aos card games, no estilo de Yuggi-Oh, onde a estratégia consiste em combinar atributos de uma equipe para derrotar outra. A crítica está voltada à absorção de uma cultura estrangeira em detrimento da nossa (detalhe, este conto foi escrito por um americano).
Um enredo para público juvenil, que fala a linguagem desta faixa etária, leva a crítica de forma positiva, pois não condena o uso de cultura exterior e procura introduzir a nossa mitologia no contexto dos card games, com suas referências às culturas orientais e europeias.
O Filho da Mata – Andreia Kennen
Um adolescente, Vinícius, com uma visão de mundo romântica não consegue se adaptar aos desejos do pai de torná-lo parte do processo de administrar a fazenda da família. Menosprezado pelo irmão, que debocha dele chamando-o de “florzinha” busca refugio ouvindo as histórias do velho Tenório, envolvendo mitos locais. Mas ele descobrirá que as histórias são mais que histórias.
Aqui o fantástico se introduz no real trazendo o leitor aos poucos para o mundo Tenório que depois passará a ser o mundo de Vinícius.
Muito bem escrito, tanto no envolvimento com o mito, como no drama pessoal de Vinícius.
Entre conspirações e monstros mitológicos – João Rogaciano
Uma história que mistura muito bem três ingredientes: um mistério policial, Um mito lusitano, o Cavalum (um cavalo com asas de morcego que solta fogo pelas ventas) e um mito brasileiro, o boitatá. Leopoldo Cid, um detive incrédulo, mas que enxerga uma possibilidade de lucro, aceita investigar as aparições do Cavalum num castelo, proposta por uma linda mulher. O enredo segue de forma bem humorada o estilo de policial noir.
A Mula do Cavaleiro Neerlandês - A. Z. Cordononsi
Aqui o mito brasileiro se mescla a um mito holandês de forma bastante criativa. As duas lendas vão pouco a pouco sendo mostradas e quem tem algum conhecimento vão perceber como elas caminham juntas. O medo não tem nacionalidade. Não dá para estender os comentários sem causar spoiller.
Amaldiçoado – Allan Cutrim
O filho de um alcóotra sofre muito nas mãos do pai e percebe que em conversa s veladas de seu pai e sua mãe é tratado com se fosse um amaldiçoado. Sua vida muda quando sua irmã é atacada por uma entidade chamada A Pisadeira.
O conto combina muito bem algumas entidades do folclore brasileiro de forma a construir uma boa história.
Terra Amaldiçoada – Mickael Menegheti
No início do ano 1500 um grupo de espanhóis sobe o Rio Amazonas, em busca da lendária cidade de Eldorado. São seguidos de perto por criaturas da floresta, que atemorizam até os índios da região. Um conto com bastante suspense e boa ambientação na mata.
Um pequeno reparo, que não compromete a qualidade da narrativa: o conto é narrado em primeira pessoa por um frade e de quando em quando a palavra foco no sentido figurado. Só que a palavra foco só aparece após a invenção do telescópio, que ocorreu cem anos depois e o sentido figurado é de uso muito recente, vindo da literatura de administração. Isso causa um tropeço na leitura tirando o leitor do clima criado.
No seu todo, o conto lida bem com as lendas, os personagens e o clima de suspense.
A Sacola da Escolha – Maria Helena Bandeira
O conto é narrado como se fosse uma lenda indígena, e trata da evolução de um personagem que, para resgatar seu passado, tem que aprender a lidar com suas escolhas.
O conto tem uma cosmogonia indígena da qual parte a narrativa que se mistura uma "contação de causo" de um caçador que se encontra com Boiúna, a cobra grande. Uma excelente narrativa recria com muita habilidade, tanto numa forma de narrar quanto na outra, o clima de fantasia.
A voz de Nhanderuvuçu – Marcelo Jacinto Ribeiro
Numa realidade alternativa, retrofuturista, dois agentes ingleses têm a missão de iniciar a exploração de uma jazida imensa de platina no centro do Amazonas.
Chegam a seu destino com um dirigível e uma tripulação treinada e são confundidos com uma ajuda enviada para salvar a população de terríveis acontecimentos: estão sendo assombrados por entidades da floresta.
Um mestiço resolve ajudá-los a encontrar o destino e a lidar com as entidades, que conhece muito bem.
Uma história bem construída e com um final surpreendente.
A Bruxa e o Boitatá – Vivian Cristina Ferreira
Bruna é uma bióloga marinha e deve ir à Florianópolis ajudar a descobrir o que está dizimando as tartarugas no projeto Tamar. Suspeita-se tratar-se de uma serpente, especialidade de Bruna.
Porém, sua mãe, sem nunca lhe dizer o motivo, a alertara para nunca voltar à ilha. Cedo descobrirá o porquê do temor da mãe.
Aqui há forte referência aos mitos de Florianópolis, considerada a Ilha da Magia, com mitos herdados da Ilha da Madeira, que acabaram se misturando a lendas indígenas.
Um bom conto.
O Rapaz Misterioso – Renan Duarte
Como Brás Cubas, esta história é contada por um morto, um latifundiário do Amazonas.
Sua rotina de homem poderoso é modificada com a chegada de um rapaz belo e cativante que enfeitiça todos com seu jeito de falar, seduzindo as mulheres e cativando os homens com histórias fantásticas.
Aqui a lenda do Boto toma forma neste bom conto.
O Padre, o Doutor e os diabos que os carregaram – Antonio Luiz M. C. Costa
O título traduz com muito bom humor o que acontece no conto.
Narrado por um padre Ortodoxo como se fosse um relado quinhentista, conta a história de como ele e um cientista judeu foram capturados pelo que ele julgou serem demônios, mas na realidade eram uma tribo de caaporas.
O primeiro parágrafo nos coloca numa realidade alternativa, onde Dom Sebastião é um Imperador, luta contra o Papa, que invadiu militarmente Portugal. Entretanto, isso pouco importa para o enredo. Provavelmente o autor colocou este conto dentro de um universo maior.
A narrativa está centrada na mudança de filosofia do padre ortodoxo (podia ser um católico, sem perda de coerência), que confronta seus valores com os do judeu e do povo que o capturou.
Um texto muito bem conduzido.
Conclusão

A proposta de O Brasil Fantástico foi plenamente atingida. Os contos estão num bom nível, não fugiram da temática proposta e alguns deram um tratamento original aos mitos.
Nerd Shop:
O Brasil Fantástico. Editora Draco. Livraria Cultura.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Thor: O Mundo Sombrio


Thor: O Mundo Sombrio
Título Original: Thor: The Dark World
Direção: Alan Taylor
Roteiro: Cristopher Yost, Christopher Markus e Stephen McFeely
Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tom Hiddleston, Anthony Hopkins,
Jaimie Alexander, Idris Elba, Christopher Eccleston, Kyle Jacobs, Ray Stevenson, Stellan Skarsgård, Zachary Levi, Tadanobu Asano
Ano de produção: 2013
Duração: 112 min

Considerando o mito clássico do herói, há coisas que o herói não pode fazer. Seja por violar um rígido código de ética, seja por ser incapaz de entender a maldade em seu plenitude por estar perto demais da Luz. Poucos heróis conseguem descer ao Inferno e voltar.

Este é o tema que norteia o segundo filme de Thor. Antes de haver Luz, havia o caos e as trevas, que eram governadas por Malekith, o Elfo Negro. Numa batalha sangrenta contra as forças da Luz, comandadas pelo pai de Odin, o Elfo Negro foi derrotado e aprisionado e seu poder máximo, o Eter, confinado em uma estrutura rochosa. Com isso, o universo dos nove reinos ficou em equilíbrio por milhares de anos.

Todavia um fenômeno natural, um alinhamento planetário entre os noves reinos pode libertar o Elfo Negro, permitindo-o resgatar o Éter e dar-lhe poder para ele destruir todo o universo.

Para derrotar estas forças, Thor precisa do auxílio de Loki, pois ele é capaz de burlar tanto a vigilância de Odin sobre Asgard como de enfrentar o Elfo Negro em seu próprio reino, o Mundo Sombrio. Poderá Thor confiar no irmão? Loki terá a firmeza necessária para não ceder a tentação de trair o irmão?

O filme conta muito bem essa história, com algumas surpresas e reviravoltas, imagens belíssimas de Asgard, uma atuação brilhante de Tom Hiddleston, que interpreta com maestria Loki, lutas de tirar o folego e um humor cínico garantido por Loki (e às vezes pelo próprio Thor) e o humor quase pastelão pelas trapalhadas de Erik Selvig, Darcy Lewis e seu estagiário que manipulam a abertura dos portais de maneira desastrada, às vezes interferindo na luta entre Thor e Malekith de forma hilariante.

Um filme sobretudo divertido.


Thor, o Mundo Sombrio - trailler

domingo, 3 de novembro de 2013

Once Upon a Time...



Um dia depois do Dia das Bruxas recebi a notícia de que a Tarja Editorial, que investira pesadamente na Literatura Fantástica, fechara as portas. As mesmas portas que abrira anos antes para autores iniciantes e para um gênero marginalizado pelo mainstream.

Muitos autores inciantes começaram por lá e alguns tive o prazer de conhecer nos lançamentos e que depois se tornaram meus amigos, em companhia dos diretores da Tarja, Richard Diegues e Giampaolo Celli, pessoas que tinham um real entusiasmo por aquilo que faziam, desde a escolha de autores, de títulos, da arte da capa, tradução de obras estrangeiras e de tudo que faz um bom livro.

De todos os lançamentos, merece destaque a coleção Fantástica Literatura Queer que, mais do que levantar uma bandeira, trouxe textos de real qualidade de um tema duplamente marginalizado.

Não sabemos qual o motivo que gerou esta decisão, mas supomos ser pelas agruras deste mercado editorial, onde todos nós, autores, editores, críticos e leitores, somos pressionados pelos desprezo do chamado mainstream, da presença maciça de multinacionais que entopem as livrarias com livros com vários tons de cinza ou códigos de pintores renascentistas de um lado e de editoras caça niqueis de outro, que aviltam o trabalho de bons editores.


Espero sinceramente que o trabalho de Richard Diegues e de Giampaolo Celli continue em outras paragens. O mundo da Literatura Fantástica precisa de gente assim.