domingo, 19 de fevereiro de 2012

Valsa nº 6, um denso drama psicológico





Peça de Teatro
Autor: Nelson Rodrigues
Direção: Dan Rosseto
Interpretação: Lígia Paula Machado
Duração: 50 minutos
Produção: MP Produção Cultural
Av. Paulista, 37
São Paulo, SP
(próximo ao metrô Brigadeiro)
Em cartaz até o final de Abril de 2012
Sábados às 20h30, Domingos às 18h30

Sinopse: Uma adolescente de 15 anos delira e conta de forma fragmentária e alucinada partes de sua vida.


A Valsa nº6 do título é uma música de Choppin pela qual a moça é obcecada, tocando-a várias vezes durante a peça de forma compulsiva. O clima onírico é criado pelo cenário, pela sonoplastia, pela iluminação (que tem por base velas decorativas) e efeitos de fumaça e principalmente pela forma da personagem contar a história.

Além da valsa, a adolescente é obcecada por dois nomes: Sonia, uma adolescente com a mesma idade da personagem, que em seu delírio pode representar uma parte dela mesma e Paulo, que pode ser um namorado ou alguém que ela deseja ou imagina.

O quebra cabeça vai sendo montado numa história de adultério, pedofilia, múltipla personalidade, traumas e alucinações, onde é muito difícil separar o real do imaginário. O texto de Nelson Rodrigues é centrado no personagem, abandonando o lógico e o racional, dando espaço para a emoção doentia da moça.

A interpretação de Lígia está perfeita, bem como toda a montagem. 



Atenção, spoiler.

Só um pequeno reparo a fazer e não é nem na peça propriamente dita: na sinopse distribuída para o público, o texto de apresentação da peça afirma logo de início que a personagem é Sônia. Está é um das interpretações possíveis, já que a personagem refere-se a “Sônia” como alguém externo a ela. Durante o espetáculo, essa possibilidade é construída lentamente na cabeça do espectador, que pode ou não concordar que a personagem e Sônia sejam a mesma pessoa. Ou colocar-se na posição neutra, já que externa ou interna, tudo é apenas uma alucinação.

Para quem gosta de um drama denso, de fundo psicológico profundo esta é uma peça altamente recomendável.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A Face Oculta da Galaxia


A Face Oculta da Galáxia
Autor: Miguel Carqueija
E-book disponibilizado na página da Casa da Cultura
ano: 2006
88 páginas

Sinopse: Joana Pimentel é uma mercenária, de codinome Vésper, que costumeiramente trabalha para a Cosmopol. Ela está afastada desde que seu marido morrera numa missão, mas agora é requisitada para ajudar a recuperar um artefato roubado. Na realidade este objeto não é comum pois se não for devolvido no local de onde foi removido a realidade espaço-tempo pode sobre severas alterações.

Miguel Carqueija é um escritor bastante presente na literatura de Ficção Científica Brasileira e pode  ser caracterizado por alguns atributos: Gosta de criar heroínas, mulheres com carater forte (como é o caso de Vésper), escreve bem cenas de batalhas, coloca suas crenças religiosas à mostra (cristianismo católico) sempre que possível, às vezes usa termos pouco usuais e costuma usar o humor em algumas cenas.

Tudo isto está presente em a Face Oculta da Galáxia. Vésper é uma heroína bem construída e o enredo esta centrado em recuperar um objeto de origem “divina”. A equipe é formada por Beng (o lider) , Rotterdam, Tenesse e Valentina. Esta última é uma assassina com uma missão específica de matar uma determinada pessoa. Durante a missão, a moça revela-se mais um problema do que uma solução. 

No caminho, mais pessoas se juntam à missão, com destaque para Gaspar, “inimigo íntimo” de Beng (eles tem uma rusga  pessoal que dura décadas) e sua neta Lícia, uma menina de dez anos muito esperta e determinada (um eufemismo para “teimosa”), que acaba roubando a cena. Com esta personagem, Carqueija libera seu lado humorista, transformando a menina em peça chave para colocar e retirar o grupo de enrascadas.

As três personagens femininas principais (Vésper, Valentina e Lícia) são um dos pontos fortes do enredo. Outro ponto é o conflito intimo de Vésper, que viola valores pessoais para poder ser uma mercenária. Este conflito, mesmo sendo centrado na questão religiosa, transcende este ponto por ser algo universal. Todos nós temos um conjunto de crenças que norteiam nossas ações e se temos que violá-las por qualquer motivo o recurso mais utilizado é negar todo o conjunto (típico conflito “entre a cruz e a espada”).

Pontos fracos:

  • Valentina é uma lésbica extremamente estereotipada, o que acaba tirando um pouco da força da personagem.
  • O objeto é apresentado a Vésper, como de origem “divina” e isto não é questionado por ela nem por Beng, que lhe trás a informação. Este seria um bom modo de demonstrar o conflito de Vésper.
  • O conflito se traduz apenas pela supressão da prática religiosa, mas não da crença. Negar totalmente a crença e depois recuperá-la aumentaria a dramaticidade.
  • Não há qualquer explicação de como se sabe que o artefato é divino. 

Estes pontos todavia não tiram o brilho do texto, pois o principal mérito dele é que é principalmente divertido.