quarta-feira, 20 de julho de 2011

Fruto Proibido: Degustação de Sombras e Sonhos

Lilith - imagem medieval
Fruto Proibido

Tenho diante de mim uma maçã. Vermelha e cheirosa. Apetitosa.
Neste preciso momento eu tenho que decidir se a mordo ou não. Grande bosta, você dirá. 

Talvez se eu lhe contar a história do porquê de minhas dúvidas, você me questione menos ou resolva me virar as costas de vez.
Antes que você me julgue, confesso que sou ateu, ou era até uma semana atrás, quando meu avô morreu.

Não. Não! Não é o medo da morte ou a emoção da ida de um ente querido que me fez mudar minhas convicções. Foi por algo que aconteceu dois dias antes de ele morrer e tem a ver com esta maçã...

Fui o dia em que Angélica, a garota por quem estou apaixonado, foi estudar matemática comigo, lá em casa. Ser o cara que mais entende de matemática no terceiro ano tem lá suas vantagens.

Mas naquele dia meu "estudo" foi interrompido. Minha mãe chamou-me discretamente e pediu para eu dispensá-la. Meu avô estava mal. As crises morre-não-morre do velho estavam me enchendo o saco. Porém era sempre a mim que ele chamava, no momento em que sentia a presença da Morte.

Mais uma vez o caminho da sedução da moça dos cabelos ruivos havia sido interrompido por um velho que devia ter ido em paz há muito.

Mas ele gostava de mim, e eu dele, de certa forma. E já estava começando a ficar habituado com este morre-não-morre do velho. Mas aquele dia estava fadado a ser diferente e não foi porque ele acabou morrendo de vez alguns dias depois. Começou pela maneira como ele me recebeu.

Mal eu entrei no seu quarto e fechei a porta, ele levantou-se da cama de um salto como nunca estivesse estado doente. E a pergunta que ele me fez logo em seguida foi mais atordoante:
— E então? Aposto que você ainda não conseguiu transar com a garota, não é?

Gaguejei, mais pelo inusitado da pergunta do que pelo embaraço:

— N-n-não.

— Ah! Como eu já sabia. Você e Angélica são ingênuos. Demais. Como seus ancestrais de cinco mil anos! Ela é bonita, atraente e não se dá conta disso. E você fica todo cheio de melindres pra se aproximar dela.

— ?

— E tem mais outra garota que desperta seu interesse, Lilian. Ela é um arraso. Muito bonita e senhora de sua beleza. Sedutora. Se veste provocantemente e parece se divertir em plantar esperanças na cabeça de todos os rapazes sem nunca lhes realizar as fantasias.

— Como você sabe disso tudo?

— A palavra é essa. Tudo. Eu sei de tudo. Sei por exemplo que você ontem cabulou aula para ir ao cinema. E você tinha razão: o filme era bom e as aulas eram péssimas.

Ele contou outros fatos de minha vida em detalhes, desde minha infância, cobrindo pequenos delitos que julgava serem só de meu conhecimento. Mas não foram só fatos. Foram também pensamentos íntimos, dúvidas, certezas, fantasias. Olhei para ele com uma cara que denunciava um misto de admiração, espanto e dúvida, e antes que eu lhe perguntasse qualquer coisa, ele me respondeu:

— Eu sou Deus.

Gargalhei.

— Deus?

— Me esqueci. Minha forma humana tem limitações. Velhos são esquecidos. Esqueci que você é ateu. Então, quer que eu prove? O que você quer que eu faça? Algo do nada?

Com um gesto de mão fez surgir diante de mim uma maçã. Esta maçã. Ela 
ficou flutuando no ar diante de mim, girando. Eu olhava incrédulo.

— Pegue-a.

Com alguma hesitação, peguei. Sólida.

— Ainda não acredita? Faz parte. Só Adão não manifestou descrença, por que ele não tinha com que me comparar, mas depois dele, todos os homens, até os com muita fé, até Buda, Krishina e Cristo, em algum momento duvidaram de mim.

Continuava incrédulo e perguntei:

— Por que então você escolheu este velho que aqui está?

— Seria melhor um moço? Uma mulher? Um quarentão? Uma criança?
Diante de mim passou por todas as transformações, voltando por fim a ser meu avô.

Deus ou não, ele era um ser extraordinário. E talvez perigoso. Mil hipóteses passaram pela minha mente: alienígena, demônio, mago, um simples hipnotizador, eu ter enlouquecido ou até ele ser mesmo Deus. Como se estivesse lendo meus pensamentos ele os interrompeu:

— Não sou um demônio, nem isto tudo é um truque. Sou mesmo Deus. Você terá agora que fazer um salto de fé e não farei mais nenhuma demonstração. Não espero que acredite em mim de pronto. A fé sem questionamentos gera intolerância e disto estou farto.

Gostei destas palavras, mas ainda duvidava (e duvido) de ser ele mesmo Deus. E, mesmo que ele fosse, ainda havia mais uma pergunta a ser feita:

— Por que eu?

Meu avô (Deus?) sorriu:

— Você é um novo Adão.

— Novo Adão?

A Criação de Adão - Michelangelo

— Esperei cinco mil anos até que este momento chegasse para corrigir um erro.

— Mas Deus não erra...

— Sim... e não. Eu escolhi o caminho do erro para evoluir. Criei a incerteza. Um lugar escuro onde jogo meus dados e não vejo o resultado. Dentro desta incerteza, criei o Homem. E eu esperava que Adão realmente comesse aquele fruto. Me desobedecendo mesmo. Mas as coisas não saíram como eu queria (e isso foi bom, pois foi fruto da Incerteza). Lilith, a mulher que criei antes de Adão e Eva, tinha como missão seduzir Adão e precipitou tudo, fazendo que Adão comesse o fruto verde.

— Por que esperava que ele desobedecesse?

— Na desobediência, o Homem descobriria seu caminho.

— Explique melhor este história do fruto verde e Lilith.

— Criei Lilith para seduzir Adão, e Eva para ser sua companheira. Lilith veio antes dos dois, feita de barro como Adão. Uma Mulher belíssima. Confiei-lhe os segredos de meus planos e dei-lhe a missão. Só que eu errei a mão na paixão ao criá-la.
Paraíso Perdido - Salvador Dali
"Lilith apaixonou-se por Adão e queria tomar o lugar de Eva. Não aceitou que eu criasse um homem só para ela.
"Em Adão e Eva errei a mão na malícia. Eles eram inocentes demais. Lilith percebeu isso, tentou Eva e fê-la tentar Adão. O fruto ainda estava verde. O Conhecimento do homem nasceu imperfeito. Arte, religião e ciência ficaram unidos apenas por tênues vínculos.
"E agora tenho que corrigir isso. Aqui está diante de você o fruto da ciência do bem e do mal. Dentro de 15 dias estará maduro e você poderá comê-lo. Ou não. Pode comê-lo agora, nunca comê-lo, comê-lo podre, ou na hora certa. Cada uma destas ações trará um benefício e um malefício para a Humanidade. Minha ordem é comê-lo maduro."

Olhei atônito para a maçã, pensando em tudo que ele me disse. Após alguns segundos perguntei:

— Por acaso Angélica é a Eva destes tempos? E Lilian é Lilith, não é?

— Perfeita dedução, meu caro Adão (creio que posso chamá-lo assim). Creio que você já sabe tudo o que precisa saber. Assumirei o papel de avô doente e morrerei daqui a dois dias.

De fato isto aconteceu, e eu estou aqui ainda com o Fruto da Ciência, do Bem e do Mal, verde (a aparência de fruta madura é apenas uma ilusão), com a possibilidade de executar qualquer uma das ações. E com a questão da desobediência na minha cabeça. Preciso de um conselho seu. Depois de tudo o que você ouviu, que devo fazer, Lilian?

Este conto faz parte do livro Sombras e Sonhos, publicado pela Balão Editorial.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Sombras e Sonhos - presenteie um amigo

No dia 20/07, Dia do Amigo, presenteie um amigo com um livro de um autor nacional.

estará com desconto de 25% no site da Balão Editorial.


domingo, 10 de julho de 2011

Dia 20/07, dê um livro nacional de presente

Ou sempre que tiver vontade 
de presentear alguém!


Importante iniciativa do colega de letras, Ademir Pascale, convida autores e editores a participarem do projeto, oferecendo descontos em suas publicações neste dia. 

Aos leitores fica a sugestão de presentearem amigos e parentes com livros de autores nacionais, não só agora, mas sempre que possível.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Os Mistérios do Mundo Negro

Os Mistérios do Mundo Negro
Autor: Miguel Carqueija e Gabriel Coelho
Editora: Hiperespaço (amadora)
Ano: 2011
40 páginas

Sinopse: A esposa de Bucler Elizondo está tendo pesadelos com um cão negro e busca Alice Chantecler para que a ajude. Alice é uma vidente e percebe que há algo mais que um sonho atormentando aquela mulher.

Miguel e Gabriel retomam a personagem que já havia sido heroína em “As Luzes de Alice” e mais uma vez enfrentará as forças do mal, na mesma estação espacial onde ocorreram os acontecimentos narrados na primeira noveleta.

O enredo é típico de mistério, descoberta e enfrentamento, que tanto agrada Carqueija. O texto é trabalhado misturando o sobrenatural com o tecnológico. Apesar o enredo se passar numa estação espacial, os antagonistas são vistos como algo sobrenatural e não se busca nenhuma explicação científica para os fatos. Isso é aceito por todos, mesmo aqueles que menosprezam o trabalho da vidente Alice, primeiro porque não há tempo hábil para pesquisar coisa alguma e, segundo, porque a administração da estação quer se livrar dos problemas sem que se investigue muito. Há algo sendo escondido, o que dá o tom pra manter o interesse na leitura e para continuações. Por outro lado, Alice se contenta em enfrentar o mal sem se preocupar com explicações outras, apenas baseada no que sente através de sua vidência.

Um outro aspecto a se ressaltar é que o horror coexiste com o humor, que costuma aparecer em alguns dos textos de Carqueija.

Carqueija e Gabriel continuam a ser amarrados pelo tamanho do da narrativa. O enredo proposto pedia um pouco mais de desenvolvimento, ainda que dirigido ao público mais jovem. Isso frusta um pouco o leitor ávido por leitura.

Sugiro aos autores: se houver uma boa resposta, pensem em ampliar um pouco mais o enredo, nas próximas continuações, se houver. Trabalhem o ambiente, dêem mais profundidade aos personagens e desenvolvam mais a trama. Afinal, uma estação colocada no espaço, com algum segredo oculto, que flerta com mas forças do mal é uma ideia muito boa, que com certeza dá pano pra muita manga.

O texto continua fluído e agradável de ler, mas nota-se que é mais rápido e mais próximo de uma HQ. Essa aceleração talvez se deva à presença de Gabriel Coelho, pois foi no ritmo que notei a principal diferença entre os dois textos. 

Para obter o livro, clique aqui.

sábado, 2 de julho de 2011

Game Genie – Série de TV no Youtube

Um maneira original de contar uma história

Gênero: Humor

Ano: 2011

Canal do Youtube: The Game Station

Elenco: HuskyStarcraft, thewarpzone, presshearttocontinue, laynepavoggi, vinvlog, thegamestation

Diretor: Layne Pavoggi

Produtor: Channing Sargent

Autor: Michael Schroeder


O sonho de todo jogar de videogame é chegar ao final de qualquer jogo. Truques eram publicados em revistas e até produtos voltados para quebrar as barreiras, dando munição extra, acesso a níveis mais elevado e até vida infinta aos jogadores. Um dos produtos era o Game Genie, para NES.



Comercial do Game Genie

Em junho deste ano, surgiu no canal The Game Station, uma série, criada por Michael Schroeder, aproveitando o mote do Gênio.

O ser sobrenatural pode dar o que a pessoa desejar, só que o que fornece são poderes relativos ao videogame, transferidos para o mundo real. Por exemplo, a primeira pessoa que o encontra o Genio, pede “salvar em qualquer ponto” e usa isso para corrigir erros (salva um instante antes de fazer uma ação e se, ao executá-la, algo der errado ele retorna ao ponto de partida e refaz a ação). Para mim, é uma escolha inteligente, desde que bem usada.

Interessante é a maneira como o Gênio é chamado. O NES e o Super NES são jogos com cartuchos de memória e, quando ocorria um mal contato, costumava-se sobrar o cartucho é isto que faz o genio surgir.


Soprando-se o cartucho, o Gênio aparece

Ainda que as histórias sigam o velho padrão do gênio, que fornece tudo ao pé da letra e nem sempre o que obtemos é algo que realmente desejamos, a inovação fica pelo uso da linguagem dos games para criar humor.

A série é postada todas as terças feiras e é composta de cinco episódios. O último está prometido para o próximo dia 5 de julho.




Em 05 de Julho de 2011, o próximo Episódio

Por enquanto, curta aqui o primeiro episódio. 
Primeiro Episódio


Os outros, obtenha aqui.