terça-feira, 31 de maio de 2011

Selva Brasil

Selva Brasil
Autor: Roberto de Sousa (ou seria Souza?) Causo
Editora: Draco
Ano: 2010
112 páginas



Sinopse:  Numa realidade alternativa, no ano de 1993, um grupo de soldados brasileiros na selva amazônica enfrenta não só o guerrilheiros do outro lado. Jânio Quadros havia invadido as Guianas nos anos 60 e entrou numa guerra de desgaste. A luta perdera o sentido.

Roberto Causo brinca com a história alternativa, pinçando um evento dentro de uma luta imaginária, mas plausível. O megalomaníaco Janio Quadros decide invadir as Guianas e acaba mudando todo o perfil geopolítico da América Latina.

O autor mostra esta realidade a partir do depoimento de um personagem que tem o mesmo nome, como se fosse seu espelho. De uma forma inteligente sente-se na história que o Causo alternativo tenta dialogar com o Causo desta realidade, especulando sobre a vida de seu “duplo”.

Quem conhece o Causo dificilmente o imaginaria segurando uma arma e atirando em alguém. Mas será que, se estes “fatos” realmente se configurassem, a história não seria outra? Do mesmo modo, o Brasil, tradicionalmente não belicoso, entraria numa guerra de desgaste contra seus vizinhos?

E o principal questionamento do livro: onde está a maior violência? Numa guerra na selva ou o dia a dia violento que vivemos? Realmente soa irônico quando o duplo do Causo diz invejar o mundo “pacífico” de nossa realidade.

A narração centra-se em alguém que está no meio do conflito e tem uma visão fragmentária do que está acontecendo, em vez de se optar por um narrador onisciente que poderia nos mostrar todo o contexto histórico e político.  Isso dá uma dimensão mais humana ao relato, pois sentimos um pouco da realidade vivida pelo personagem narrador.

Todavia sentimos que história poderia ser ampliada e abarcar todo o contexto alternativo. Isso talvez ainda possa ser feito, se Causo optar por criar mais contos, noveletas ou romances no mesmo universo, aprofundando-se nesta outra realidade.

Um livro para nos fazer pensar.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Dia da Toalha – Dia do Orgulho Nerd

Hoje é um dia especial para os nerds de um modo geral e para os fãs de Mochileiros das Galáxias em especial.

É porque, em todo o mundo ocorre uma dupla comemoração:  o Dia do Orgulho Nerd e o Dia da Toalha

O Dia do Orgulho Nerd marca a estréia mundial do filme Guerra nas Estrelas, que ocorreu em 25 de maio de 1977. Este filme inaugurou não só uma nova fase nos filmes de fantasia como exacerbou um comportamento que antes só algumas pessoas “desajustadas” tinham: o do fã que quer saber tudo sobre sua série preferida, custe o que custar. 


Embora os fãs de Jornada nas Estrelas já fizessem isso, até de forma organizada, o comportamento nerd ganhou força a partir de então.  Aliás, o primeiro filme para o cinema de Jornada nas Estrelas foi às telas apenas em 1978, aproveitando a porta aberta pelo seu rival. 


 


E daí ela ficou escancarada. Veio Battlestar Galática também em 78 (que virou uma série e ganhou uma remake em 2003), Senhor dos Anéis, os RPGs ganharam força e assim por diante. 



Battestar Galática 1978


A porta aberta pelo cinema também deu passagem para que outros nerds mostrassem a face: leitores de Ficção Científica, Fantasia e Terror (em especial Vampiros) e os nerds clássicos puderam respirar em paz, ganhando até uma série televisiva, Big Bang Teory.

Os fãs de Douglas Adams  também nerds e, por coincidência (ou não) escolheram em 25 de maio de 2001 para homenagear seu autor preferido, que falecera 14 dias antes. A toalha é um objeto que todo nerd deve ter, segundo Douglas Adams, porque se um mochileiro tem uma toalha, quem lhe der carona pressupõe que ele tem todo o resto necessário. Como este útil pedaço de pano tem uma relevância fundamental, os nerds-mochileiros a escolheram para simbolizar sua homenagem. Neste dia o mínimo que um fã desta série deve fazer é ostentar uma toalha.

Assim, o Pai Nerd deseja a todos um feliz Dia do Orgulho Nerd ou um Feliz dia da Toalha. Ou ambos!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Amor Sem Limites – O futuro sem pudor

Amor sem Limites – As vidas de Lazarus Long
Autor: Roberte Heinlein
Título Original: Time Enough for Love: The Lives of Lazarus Long
Tradução: Marina Leão Teixeira Viriáto de Medeiros
Editora: Círculo do Livro
Ano: 1988 (provável)
Ano da primeira publicação em inglês: 1973.
684 págians


Sinopse: Lazarus Long, nascido em 1912, após cerca de 2300 anos, decide morrer. Porém seus descendentes, que formam a Fundação Howard, não querem que ele morra e tentam convencê-lo a ficar vivo, buscando algo que o motive. O livro concentra-se na descrição de suas memórias ao longo dos séculos.


O livro é parte de um ambicioso projeto de Heinlein, a série História do Futuro, composta pelos seguintes volumes: Os filhos de Matusalém (Methuselah's Children, 1941); O homem que vendeu a Lua (The Man Who Sold The Moon, 1950); Revolta em 2100 (Revolt in 2100, 1953); Amor sem limites: As Vidas de Lazarus Long(Time Enough for Love: The Lives of Lazarus Long, 1973).  

Posteriormente ele fez algumas continuações: As anotações de Lazarus Long - (The Notebooks of Lazarus Long - 1978); O número da Besta (The Number of the Beast - 1980); O gato que anda através dos Muros (The Cat Who Walks Through Walls (1985); Navegar além do pôr do sol (The Sail Beyod de Sunset) (1987).


Apesar de ser um livro que faz parte de uma série, ele é auto contido, podendo ser lido de forma independente. Referencias ao passado da série são explicadas e contextualizadas adequadamente.


Heinlein, neste romance, tem um objetivo claro: discutir a sexualidade, quebrando tabus, em especial o tabu do incesto. Segundo o autor, a única razão racional para o relacionamento entre parentes não ocorrer é biológica. E, por isso, a biologia genética ganha extrema relevância no decorrer do romance. Há trechos que parecem uma aula de biologia.


A possibilidade de ocorrer um relacionamento entre parentes consanguíneos é alta na família Howard, já que muitos têm idades medidas em séculos, e tiveram que mudar de nome várias vezes para ocultar para a sociedade dos “efêmeros” a sua existência. Com o passar do tempo e o desenvolvimento da genética, o mapeamento dos genes poderia eliminar a possibilidade de um problema futuro, mesmo nos relacionamentos endogâmicos. Estes relacionamentos passaram a ser estimulados, para manter o gene da longevidade dos Howards nas gerações futuras.


A discussão passa por várias formas de relacionamento, envolvendo o casamento monogâmico tradicional, uma ligeira insinuação de homossexualismo e casamentos múltiplos.


A clonagem e processos complexos de rejuvenescimento (não adianta ter 200 anos e aparência de 200 anos!) também são discutidos em detalhes.


A narrativa após os primeiros capítulos é centrada na "contação de histórias" de Lazarus, que entra em acordo como seu descendente direto, Ira Howard: ele desistirá de morrer e se submeterá ao rejuvenescimento se encontrar algo que o motive a viver. Ele pede mil dias para decidir e, enquanto isso, como Sherazade, contará passagens de sua vida que não constam em suas memórias ou estão ambíguas. Ele faz isso narrando sua vida a uma computadora chamada Minerva, que tem um sonho de se tornar humana e experimentar a vida sexual.


Isso garante uma série de histórias em varias épocas, começando pela vida de um fuzileiro que era preguiçoso demais e por isso não podia fracassar (ele sempre achava que o nível hierárquico superior trabalhava menos que o anterior).


As histórias são narradas com um humor cínico. Vale destaque para a história dos irmãos gêmeos que não eram parentes (gerados por uma experiência genética) e pela longa história do relacionamento amoroso entre Lazarus e Dora (sua filha adotiva), enquanto pioneiros num planeta hostil. Esta história parece muito com um western, onde a única coisa que nos lembra tratar-se de FC são mulas falantes.


Um ponto negativo destas narrativas são o jeito verborrágico com que são narradas (típicos de um velho saudosista). O próprio autor nos aponta para isso, colocando entre parênteses frases do tipo “5000 palavras omitidas” em determinados pontos da história. Uma leitura dinâmica em alguns pontos contorna este inconveniente.


Atenção: spoiler!


Para motivar Lazarus, Ira e Minerva tentam encontrar algo que ele nunca fez antes. A proposta vencedora foi a viagem no tempo. Aqui vem a parte mais importante do livro, onde Heinlein coloca um Lazarus com a vivencia de 2300 anos e passagens por diversas culturas em contato com a Terra, numa típica cidade americana conservadora, às vésperas da Primeira Guerra Mundial. Ali ele entra em contato com sua família (inclusive ele mesmo, com cinco anos de idade) e se apaixona por sua mãe (e sua mãe por ele), levando às últimas consequencias a quebra do tabu do incesto.


Amor sem Limites e De volta para o Futuro


Há dois pontos fundamentais que aproximam estes dois clássicos. O primeiro é a paixão da mãe pelo viajante do tempo (que ela ignora ser seu filho).


O outro é forma de comunicação de Lazarus com sua família na época futura são cartas que ele manda para Fundação Howard para serem entregue em determinada data e ficam retidas na “correspondência atrasada”. Isso não lhe lembra nada?


Há também frases do Dr Emmett Brown (Christopher Lloyd)  que lembram colocações de Lazarus. Aliás, Christopher Lloyd daria um bom Lazarus.


Plágio? Heinlein ainda era vivo (ele morreu em 1988) quando foi lançado o primeiro De Volta para o Futuro (1985) e, aparentemente, não se incomodou.


Conclusão


Este livro é considerado por muitos a melhor obra de Heinlein, pelo alcance de suas colocações sociológicas e psicológicas que ainda são contestadoras, quase 40 anos depois. Vale a pena lê-lo por tudo que ele representa, mesmo por quem não é fã de FC ou de Heinlein.


Quanto às passagens aborrecidas, quer as verborrágicas, como as longas explicações biológicas, contorne-as, pulando trechos. Há parágrafos e até páginas inteiras que podem ser pulados se você não quer uma aula de biologia genética ou ouvir conversa de velho.





Trailler: De volta para o Futuro.
Qualquer semelhança seria mera coincidência?

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Padre - Horror Retrofuturista

Padre
Título Original: Priest
Direção: Scott Charles Stewart
Roteiro: Cory Goodman, baseado no manhwa "Priest", de Min-Woo Hyu
Elenco: Paul Bettany, Karl Urban, Cam Gigandet, Maggie Q, Lily Collins, Christopher Plummer
87 minutos

Sinopse: Após longos séculos em luta contra os vampiros, a Igreja Católica assume a luta e a proteção da população, criando uma elite de guerreiros, Os Padres, que tem a missão de exterminar os seres malignos. Após uma longa guerra, que deixou a terra devastada, os vampiros são confinados em reservas e os padres destituídos de suas funções. Esta paz precária contudo está ameaçada.

Quem leu o manhwa (HQ coreana) e tenta comparar com o filme percebe que o roteirista aproveitou quase que só o nome. Aqui vai a primeira recomendação: se leu o manhwa, esqueça qualquer comparação. É literalmente outra coisa.


O filme lembra um western que se passa num futuro pós apocalíptico, dentro da estética retrofuturista que tem ganhado espaço no cinema e na literatura de fantasia e ficção científica. Esta aproximação com o western é o principal mérito do filme, desde o chapéu do principal vilão, do xerife que acompanha o padre, que por sua vez lembra Clint Eastwood sobretudo o pistoleiro sem o nome que aparece em vários filmes).



As cenas de ação e suspense garantem o interesse do filme com uma emocionante luta em cima de um trem, remetendo mais uma vez aos filmes de western, onde os cavalos são substituídos por motos.

As referências não ficam só nos filmes de western. As primeiras cenas, onde aprece uma das cidades grandes controladas pela Igreja, lembram muito Blade Runner com prédios enormes, ruas apinhadas de gente, os anúncios projetados nos prédios e o clima de filme noir. As cidades apinhadas de gente e protegidas por muros gigantescos e separadas entre si por imensos desertos, lembra o filme “Juiz Dredd”.

Os vampiros contudo são muitos diferentes dos vampiros clássicos e dos vampiros água com açúcar pós-Crespúsculo. São monstros horríveis, sem olhos, que habitam cavernas e tem organização tipo colméia, que nos assustam pela feiúra, tamanho, quantidade e agilidade.


O filme funciona bem como filme de ação e não vai decepcionar os fãs deste gênero.