domingo, 2 de janeiro de 2011

A Dança da Realidade

A Dança da Realidade
Autor: Alejandro Jodorowisky
Editora: Devir Livraria
Ano: 2010
368 páginas

Sinopse: “Autobiografia imaginária” de Jodorowisky, cobrindo dede sua infância até a consolidação do que ele chama de “psicoxamanismo”.

Por que autobiografia imaginária? Segundo o próprio Jodorowisky, ainda que tudo que ele tenha relatado sejam fatos de sua vida, ainda assim a imaginação tem que estar presente na concepção do texto, visto que só percebemos da realidade aquilo que é filtrado por nossos conceitos limitantes e que para transcendê-los, devemos usar a imaginação ativa, buscando outros pontos de vista.

"Este livro é um exercício de autobiografia imaginária, se bem que não no sentido de “fictícia”, pois todos os personagens, lugares e acontecimentos são verdadeiros, a não ser pelo fato de que a história inteira de minha vida é um esforço constante para expandir a imaginação e ampliar seus limites, para apreende-la em seu potencial terapêutico e transformador." - Jodorowisky


El Topo (Trailler) - Filme de Alejandro Jodorowisky

O livro, com muitos detalhes de sua vida tumultuada, nos permite ver como todos estes acontecimentos ajudaram a moldar o poeta, teatrólogo, cineasta e roteirista de HQs.

A narrativa começa com sua infância pobre no Chile e sua relação conflituosa como pai, um comerciante de origem russa, que renegava tanto sua condição de judeu como a de estrangeiro. Por temer que seu filho se tornasse homossexual, tratava filho sem demonstra afeto e até com brutalidade. Essa busca de afeto paterno marcará profundamente o jovem Jodorwisky. Real ou imaginário? Tanto um como outro. Seu pai realmente o agrediu fisicamente apenas para que ele provasse resistir a dor? Estas são as reinterpretações de acontecimentos muito antigos segundo a lógica de um adulto que revê seu passado e procura dar-lhe uma interpretação consistente.




Jodorowisky na TV Mexicana

Jodorowisky é conhecido por suas atitudes polêmicas, algumas já descritas no seu livro anterior, Psicomagia, e mostradas em detalhes nesta sua autobiografia. Um artista ousado e inquieto, que foi um poeta chileno de projeção internacional, trabalhou com Marcel Marceau e Morrice Chevalier, foi palhaço em um circo, montou uma companhia de teatro de marionetes, destruiu um piano a marretadas diante das câmeras da TV Mexicana, criou o teatro pânico – onde pessoas comuns improvisavam livre de amarras, o que acabava gerando espetáculos altamente bizarros, que fariam Lady Gagá parecer uma senhora muito comportada – cineasta surrealista, assistente de uma curandeira mexicana, praticante de Zen, leitor de Tarot e finalmente um psicomago e psicoxamã (não necessariamente nesta ordem).



Movimento Panico, criado por Alejandro Jodorowisky, Fernando Arrabal e Roland Topor. O nome inspira-se no do deus Pan, o qual se manifesta através de três elementos básicos: terror, humor e simultaneidade.  

Tudo isto é nos mostrado num texto fluído e envolvente, em que pese alguns paragrafo extremamente longos. Ao lê-lo, percebe-se a sua preocupação em romper limites, inicialmente pessoais, depois sociais, tendo como parâmetro apenas a imaginação.

O texto é fundamental para se conhecer o artista e entender seu processo criativo. Porém este processo não pode ser reproduzido, por isso creio que não haverá outro psicoxamã. A ruptura já foi estabelecida. Não há como romper o que já foi rompido. Quem quiser que crie seu próprio caminho.


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